domingo, 22 de maio de 2011

Negra Devoção

Anderson José Machado de Oliveira
Professor do Instituto de Aplicação da UERJ, das Faculdades Integradas Campo-Grandenses e doutor em História com a tese Os santos pretos carmelitas: culto dos santos, catequese e devoção negra no Brasil colonial (UFF, 2002).


“Lá vem o meu parente”, exclamou um velho negro ao avistar, numa procissão, a imagem de um santo de lábios grossos e cabelo encarapinhado. Quem registrou o episódio foi o missionário protestante norte-americano Daniel Kidder, em viagem ao Brasil no século XIX. Talvez para nós, atualmente, a ligação entre santos pretos e homens pretos seja algo natural, fruto de uma identificação quase que necessária. No entanto, o que nos parece corriqueiro hoje fazia parte, no período colonial, de uma estratégia da igreja católica no sentido de tornar cristãos os escravos africanos e seus descendentes. Mais ainda, discipliná-los para encarar a escravidão. Não seria exagero dizer que o reforço do incentivo às devoções foi um elemento fundamental da política oficial de evangelização.
Os santos tornaram-se grandes aliados da Igreja para atrair novos devotos pois eram representações de pessoas comuns, por isso mais próximas dos fiéis – e, principalmente, obedientes a Deus e ao poder clerical. Nomeando e protegendo diversos lugarejos, suas imagens chegavam às localidades mais distantes, muitas vezes antes dos próprios padres. Contando e estimulando o conhecimento sobre a vida dos santos, a Igreja transmitia aos fiéis os ensinamentos que julgava corretos e que deviam ser imitados por escravos que em geral traziam outras crenças de suas terras de origem, muito diferentes das que preconizava a fé católica.
A intensificação do tráfico de escravos, no século XVIII, transformara os africanos e seus descendentes no maior contingente populacional da Colônia. Para os proprietários, isto aumentava a capacidade produtiva e os lucros, mas trazia preocupações na mesma escala. Desde o final do século anterior, a guerra contra o Quilombo de Palmares, na capitania de Pernambuco, despertara preocupações nas elites senhoriais, interessadas em estabelecer um maior controle sobre a população cativa. Diante destes fatos, na sua função de legitimadora da ordem social, a Igreja não descuidou de apresentar aos negros modelos de santidade que exemplificassem o cultivo das virtudes cristãs e obediência ao poder. Os que mais se podiam se identificar com os escravos eram, evidentemente, os santos de sua etnia.
Tida por alguns como santa, a ex-escrava Rosa Egipcíaca pareceu, por um momento, atender a tal propósito. Ela nasceu na Costa da Mina, África, em 1719, tendo chegado ao Brasil em 1725. Viveu entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro até 1762, quando foi presa e enviada a Lisboa aos cuidados da Inquisição, sob acusação de embuste e heresia. Como nos relata o antropólogo Luiz Mott, padres franciscanos queriam que a beata negra, por suas virtudes religiosas, se transformasse num modelo para as “gentes de cor” do Brasil. Seu afastamento dos dogmas da Igreja resultou entretanto no fracasso do projeto. Apesar de Rosa, a Igreja, no seu trabalho catequético, podia sempre contar com outros santos pretos, estes devidamente reconhecidos pela Igreja e acima de qualquer suspeita, com grande aceitação entre os escravos. São eles São Benedito, Santo Antônio de Categeró, ou de Noto, Santo Elesbão e Santa Efigênia.
As vidas desses santos eram divulgadas em obras de grande difusão na Colônia. Em 1744, frei Apolinário da Conceição, da Ordem do Frades Menores, publicou Flor Peregrina por Preta, ou Nova Maravilha da graça, descoberta na prodigiosa vida de São Benedito de S. Filadélfio. Religioso leigo da Província Reformada da Sicília, das da mais estreita Observância da Religião Seráfica. O título pomposo pretendia trazer à luz a virtuosa vida de São Benedito. Nascido em Lisboa, frei Apolinário tinha consciência da importância da escravidão para o desenvolvimento da Colônia. Segundo ele próprio, um dos objetivos da sua obra era apresentar aos negros um santo que com eles se identificasse pela sua condição étnica.
São Benedito, o santo biografado, seria filho de escravos africanos. Teria nascido em 1524, na aldeia italiana de São Fratello, na Sicília, e servido como cozinheiro, despenseiro e guardião no convento franciscano de Palermo. Assistia os pobres distribuindo entre eles os víveres que retirava da despensa do convento. Para frei Apolinário, “apesar da cor preta”, foram as virtudes de São Benedito que o conduziram à santidade. O santo morreu em 1589, tendo seu culto principiado no Brasil antes da sua canonização, em 1807.
Em 1726, o padre secular e irmão terceiro franciscano José Pereira Baião publicou a História das prodigiosas vidas dos gloriosos santos Antônio e Benedito, maior honra e lustre da gente preta. Padre José era natural de Gondolim, Bispado de Coimbra. No prólogo da obra justificava a divulgação das vidas de São Benedito e de Santo Antônio de Noto como um serviço de estímulo à fé, afirmando: “O mesmo fruto espero em Deus que há de causar nos fiéis destes dois gloriosos Santos Pretos Antônio e Benedito, especialmente nos de sua cor...”.
De modo semelhante ao que fez frei Apolinário, a narrativa dirigia-se com ênfase a um público específico. Destacava-se neste trabalho a vida de outro expoente entre os santos pretos, Santo Antônio de Noto. Este, segundo Padre José, era originário da Guiné, filho de pais mouros e, portanto, nascido e criado na lei de Maomé. Levando em conta esta origem, de acordo com a narrativa, foi uma felicidade para Antônio ter sido vendido como escravo para a Sicília, pois com isso teve a oportunidade de conhecer o cristianismo e livrar-se da “infidelidade” muçulmana. Na escravidão, abjurou (ou seja, renunciou) de bom grado ao islamismo e tomou o nome de Antônio, em homenagem ao Santo Antônio de Lisboa. Sua vida foi marcada pelas virtudes da temperança, penitência, docilidade e trabalho. Alforriado, tornou-se irmão terceiro de São Francisco, ou seja, membro de uma “ordem terceira”, associação de homens piedosos que não eram monges, sendo tributados a ele inúmeros milagres em vida e após sua morte, ocorrida em 1549.
Os dois últimos expoentes pretos da corte celeste tiveram suas vidas contadas pelo carmelita frei José Pereira de Santana. Sua obra, Os Dois Atlantes de Etiópia. Santo Elesbão, Imperador 47° da Abssínia, Advogado dos Perigos do mar e Santa Efigênia, Princesa da Núbia, Advogada dos incêndios dos edifícios. Ambos Carmelitas, foi publicada em dois volumes, o primeiro em 1735, dedicado à vida de Elesbão, e o segundo, em 1738, dedicado à vida de Efigênia. Frei José era natural do Rio de Janeiro, tendo sido ordenado no Carmo da cidade, posteriormente obtendo o doutorado em Teologia, em Coimbra. A carreira do frade ainda seria laureada com a ocupação dos cargos de Qualificador do Santo Ofício, Cronista Oficial do Carmo e confessor e preceptor das filhas de d. José – rei de Portugal (1750-1777). Era certamente uma figura importante e conhecedora das questões fundamentais ao império português, dentre elas a escravidão.
Segundo o frade, Santo Elesbão era natural da Etiópia, tendo sido o 46° neto do rei Salomão e da rainha de Sabá. Imperador de seu país no século VI, creditou-se a ele a extensão do reino cristão da Núbia até o lado oposto do Mar Vermelho, no que se impôs aos árabes e judeus do Iêmen. Entre os judeus teria nascido uma rebelião comandada por um rei chamado Dunaan, o qual foi vencido por Elesbão numa expedição punitiva, visando ao restabelecimento da ordem cristã. Também Santa Efigênia pertencia à nobreza. Princesa da Núbia, teria sido convertida ao cristianismo e batizada pelo apóstolo Mateus. Indiferente aos prazeres mundanos e aos requintes da corte, tornou-se religiosa, fundando um convento, tendo terminado sua vida santamente, à frente da comunidade religiosa por ela fundada. A história de Efigênia ainda seria divulgada, em 1742, pelo missionário apostólico padre Antônio de Oliveira, que escreveu, inspirado na obra de frei José Pereira de Santana, a Novena da Bem Aventurada Virgem Sta. Ifigênia. Princesa da Núbia e Fênix da Etiópia.
As irmandades – instituições leigas devocionais e assistenciais - feitas para cultuar esses santos também tiveram grande importância na divulgação das histórias e foram inúmeras que se formaram em toda Colônia. No Rio de Janeiro, em 1740, os pretos mina organizaram a irmandade em louvor a Elesbão e à Efigênia. Na mesma cidade, os pretos angola cultuavam São Benedito, juntamente com Nossa Senhora do Rosário. Em Minas Gerais, desde o início do século XVIII, Santa Efigênia, Santo Elesbão, São Benedito e Santo Antônio de Categeró eram cultuados nas duas irmandades do Rosário dos Pretos existentes em Vila Rica. Uma delas, que tinha sua igreja na localidade do Alto da Cruz, está ligada à lenda do Chico Rei. Segundo a lenda, soberano na África e escravo em Minas Gerais, no século XVIII, teria conseguido libertar seu povo do cativeiro com o ouro que os negros escondiam nos cabelos e posteriormente depositavam numa pia de pedra existente na Igreja do Rosário do Alto da Cruz, conhecida como Igreja de Santa Efigênia. Este seria o motivo da devoção de Chico Rei à santa, pois ela o teria ajudado a cumprir sua missão.
Em Olinda, os negros da Irmandade do Rosário também cultuavam Santo Elesbão. Na Bahia, o culto à Santa Efigênia tinha lugar na Irmandade do Rosário dos Pretos de Salvador, enquanto que Santo Antônio de Categeró tinha sua irmandade, desde o final do século XVII, formada por crioulos (descendentes de africanos nascidos no Brasil) e angolas, na Igreja de São Pedro de Salvador. Em Traíras, Goiás, também se registra, entre os pretos, o culto de Santa Efigênia. Aliás, com relação a este culto, o viajante austríaco Emanuel Pohl, em 1819, ficou bastante impressionado com a festa organizada pelos devotos que, ricamente ornados e montados a cavalo, carregavam a bandeira com a imagem da santa, num cortejo marcado pelos disparos de morteiros e ao som de instrumentos de origem africana. Nas palavras do viajante, carregadas de juízo de valor: “A horrível gritaria, que chegava até nós, não nos deixou pregar os olhos durante toda a noite”.
O depoimento de Pohl nos deixa perceber que a estruturação do culto pelos negros nem sempre seguiu os rigores recomendados pela Igreja, principalmente no que diz respeito à mescla entre as tradições religiosas católicas e aquelas de origem africana. Por ora, sem menosprezar estes fatos, é importante chamar a atenção de que havia, por parte da Igreja, objetivos bem nítidos ao propagandear a vida dos santos pretos.
Um fio condutor unia essas biografias. Primeiramente, deve-se atentar para o discurso em relação à cor. Ser “preto”, na sociedade colonial, designava, além da cor da pele, um lugar social, que indicava uma proximidade maior com a esfera do trabalho e a ascendência africana. Geralmente o termo preto designava o escravo africano. Não só os escravos, mas também os libertos com recente passado escravo, eram incluídos na categoria de pretos – os chamados “pretos forros”. Santo preto, neste sentido, identifica um grupo de fiéis para os quais era idealizado como modelo de vida.
A África é outro ponto de união dessas histórias. O continente, por vezes retratado de forma bastante imprecisa, aparece nas narrativas como terra de mouros, lugar de pecado. Mas, por outro lado, também podia ser o lugar que gerava servos fiéis a Cristo e à sua Igreja. Benedito, Antônio, Elesbão e Efigênia seriam exemplos desta segunda África. Em torno de tal ambivalência se construiu um modelo de África com o qual se desejava que os africanos e seus descendentes se identificassem – ou seja, não o lugar do tráfico de escravos ou das culturas ancestrais tão abominadas pelo catolicismo, mas uma África fiel e compromissada com o cristianismo ocidental.
Este compromisso estaria firmado na própria vida daqueles santos: todos eram virtuosos, além de obedientes e defensores da Igreja. A resignação que demonstravam diante dos desígnios divinos deveria ser um espelho para os seus devotos. Aliás, neste ponto, as histórias desses santos coincidiam com os conselhos que, em 1633, o jesuíta Antônio Vieira formulou para os escravos no Sermão XIV do Rosário: a escravidão era uma forma de resgate dos pecados. Aceitar a situação do cativeiro com resignação era aceitar a oportunidade que Deus concedera aos negros de purgar, em vida, as suas penas.
Outro elo entre tais histórias é a presença e o papel dos religiosos mendicantes, notadamente franciscanos e carmelitas, que difundiam pelo Brasil as vidas dos santos negros, sempre representados com as vestes das respectivas ordens. Juntamente com os dominicanos, aquelas duas ordens religiosas se caracterizaram por gerar, desde a Idade Média, muitos especialistas na produção de hagiológios. Deste modo, prestaram inúmeros serviços à Igreja e aos poderes constituídos, na condição de difusores de belos exemplos, destinados à evangelização dos povos. No contexto do império colonial português, ao se dedicarem à tarefa de difundir as vidas dos santos pretos, esses hagiógrafos se tornaram peças importantes, para o Estado e a Igreja, na formulação de soluções para uma questão crucial: a escravidão.

O Brasil explicado em Galinhas

Por Luis Fernando Veríssimo

Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e o levaram
para a delegacia.
D – Delegado
L – Ladrão
D – Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!
L – Não era para mim não. Era para vender.
D – Pior, venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!
L – Mas eu vendia mais caro.
D – Mais caro?
L – Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto
as  minhas botavam ovos marrons.
D – Mas eram as mesmas galinhas, safado.
L – Os ovos das minhas eu pintava.
D – Que grande pilantra.. (Mas já havia um certo respeito no tom do delegado).
D – Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega..
L – Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiros a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio.
D – E o que você faz com o lucro do seu negócio?
L – Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas.Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.
O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:
D – Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?
L – Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.
D – E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?
L – Às vezes. Sabe como é.
D – Não sei não, excelência. Me explique.
L – É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora fui preso, finalmente vou para a cadeia. É uma experiência nova.
D – O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.
L – Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!
D – Sim. Mas primário, e com esses antecedentes…

A Morte na Idade Média


DHIOGO JOSÉ CAETANO             
Graduando da UEG- Universidade Estadual de Goiás


                Morrer é uma certeza irrefutável, uma verdade universal, comum a toda a humanidade. O ciclo da existência acaba por igualar todos na morte, seja qual for o sexo ou condição social. O finito é irremediável para todos, como foi indispensável o nascimento.
A inquietude á respeito da morte foi sempre objeto de grande reflexão do homem, na incerteza do que haveria para além dela. Esta herança milenar sofreu um rude golpe com a modernidade. A sociedade ocidental atual, cada vez mais tentada a prolongar a vida, vai distanciando da morte, não pensando nela, e procura esquecê-la. Com o acentuar do laicismo, afirma-se cada vez mais que após a morte nada há mais, o que modifica o comportamento humano e incentiva cada vez mais a viver a vida, a gozar os prazeres dos sentidos corporais. A postura do homem perante a morte nem sempre foi assim, muito em especial na Idade Média. Com o advento da religião cristã, ao princípio influenciado pelo neoplatonismo de Santo Agostinho, o mundo sensível era apenas considerado uma sombra, um caminho para se passar do sensível ao inteligível, da sombra para a luz. Em vez de procurarem na Natureza o seu próprio fundamento, afirmavam que o mundo foi criado num ato de amor, e que esse amor deveria orientar os espíritos de volta para Deus, salvando-os do Inferno. Passava a ser dogmático que o Inferno e o Paraíso existiam e eram inseparáveis e eternos. Como tal, nesse período, o Mundo era considerado um local de batalha constante contra o Diabo, pela salvação da alma. A religião interfere nos elementos mentais, nas ações materiais e nos aspectos culturais, alterando e modificando o comportamento social do homem ocidental. No período medieval a morte era o grande momento de transição, das coisas passageiras para as eternas. A morte era um rito de passagem. Era aguardada no leito em casa, onde o homem deveria ficar deitado de costas, para o seu rosto estar voltado para o céu. A morte era uma cerimônia pública, um ritual compartilhado por toda a família e amigos. Os medievais pressentiam as suas chegada, e assim tinham tempo de prepara o seu ritual coletivo. Ninguém morria só. A morte era uma festa, momento social da maior importância. Todos deveriam acompanhar a passagem do homem para o além, incluindo as crianças. O pranto era executado exclusivamente pelas mulheres; elas deveriam ficar perto do corpo, arrancando os cabelos e rasgando as vestes. Elas eram os agentes essenciais no rito funerário, pois representavam o prelúdio da mudança para um estado superior. A preocupação não era com a morte, mas sim com a salvação da alma. Essa era a morte lenta no leito daqueles que haviam sobrevivido das doenças, da fome e das guerras. Mas havia também a morte na guerra, a morte antecipada, momento supremo do cavaleiro, que alegremente se dirigia na sua direção. Como o mundo dos vivos estava ligado ao dos mortos, o papel dos mosteiros era exatamente o de interlocutor junto do Além pela sociedade terrestre. Na Idade Média a morte foi assimilada nos corações. Desejada pelos guerreiros, aguardada pelos religiosos, a morte foi sentida como um rito de passagem para um outro mundo, o Além. Os medievais entendiam o Além como uma realidade. Foi o tempo do Além, e a preocupação com a morte, algo constante nas suas vidas. O Além é o espaço espelho da sociedade que o imagina e recria constantemente esta realidade.
            No final da Idade Média novas formas de compreensão da morte tomaram conta dos espíritos, como, por exemplo, o macabro esqueleto com a foice, que exprimiu a profunda angústia dos tempos da Peste Negra. Para tanto, contribuíram para essa nova espiritualidade e concepção do Além, os pregadores franciscanos e dominicanos, lembrando às pessoas a corruptibilidade de todas as coisas, sendo o cadáver putrefato a imagem preferida nos sermões.
O Além deixou de ser a razão última da própria existência, para passar a ser a chantagem para a imposição das regras e dos dogmas religiosos.

As preocupações dos homens no ano mil da Era Medieval


As razões que levaram para existir tanto temor no ano mil, se dera por conta da grande propaganda da fé Cristã, e do próprio Cristianismo em si, que através da Bíblia, em especial no, Apocalipse, refere-se ao Fim dos tempos, tais esses eram interpretados a qualquer coisa que se visse, seja ela bizarra ou num simples fenômeno da natural. Físico. Exemplos estes que poderiam ser: Um eclipse, um incêndio inexplicável, o nascimento de um bebê monstruoso, uma praga agrícola, a passagem de um cometa no céu, ou até mesmo uma grande epidemia. Visto dessa forma, homens e mulheres fizeram preocupados com a aproximação do ano Mil e o que poderia surgir após sua seqüência. Com o passar dos anos e nada do tal “Fim do Mundo” acontecer, nasce então certa incredulidade por parte de algumas pessoas, até porque, dava-se como certos as apostas da Igreja. Como parte dessa problemática, entendo que duas coisas foram determinantes naquela época para a sua total ilusão, foram eles: a ignorância do povo e a condução desses por parte da elite clerical letrada e que hoje trazem a tona um pouco do que pode ser, e o que realmente é.  Estou falando do que é ter fé, e o que de fato é a realidade.
Bem, a explicação é a seguinte, frases e textos bíblicos, podem (para quem acredita), mostrar como premonições, (algo que pode acontecer), nos policiando até onde nós mortais poderemos ir, mas há aqueles também que lêem a Bíblia da forma que mais lhe convém, as interpretam sem um menor conceito prévio e o devido estudo, e assim já propagam a sua forma, prematuramente. Um exemplo claro disso pode-se ver nesse trecho da Bíblia onde o apóstolo Paulo afirma: "toda a Escritura é inspirada por Deus” (...), diga-se de passagem, que a Bíblia não havia sido compilada, entretanto alguns cristãos crêem que Paulo se referia à Bíblia que seria posteriormente canonizada. O historiador francês Georges Duby, um dos mais renomados historiadores sobre a época Medieval, nada encontrou como documento ou testemunho que comprovasse tais fatos, mas há um só episódio em que certo Sigeberto de Gembloux relata que de acordo com ele, "viram-se nesta época muitos prodígios, um terrível tremor de terra, um cometa de rasto fulgurante; a irrupção luminosa invadiu até ao interior das casas e, através de uma fratura do céu, apareceu uma imagem de uma serpente".
A descrição é terrível, sendo que o autor viveu no século XII, portanto não foi testemunha do que descreveu. Na onda crescente desse milenarismo, no ano de 1999, viu-se acontecer algo parecido, o de que o mundo iria se acabar no ano de 2000, e com isso, muito se especulou e vendeu com a data, inclusive muitos religiosos acreditavam piamente num novo Apocalipse, mas o que de fato ocorreu mesmo foi o tão falado “Bug do milênio” (Bug, refere-se a erro/falha), mas lançada a corrida tecnológica, foram feitos os reparos esperados, bem antes daquele ano de 2000 se iniciar, completamente.

Páginas da "imprensa negra"

Desde o último dia 13 de maio é possível acessar no site do Arquivo Público do Estado de São Paulo 23 títulos de jornais e revistas do movimento negro brasileiro  


O Arquivo Público do Estado de São Paulo, órgão vinculado à Casa Civil, comemorou a Abolição da Escravatura no Brasil, no último dia 13 de maio, colocando em seu site o conteúdo integral de 23títulos de jornais e revistas da chamada “imprensa negra” brasileira. A coleção de periódicos pertence a várias vertentes do movimento negro no país durante as primeiras décadas do século XX. Segundo o Arquivo, a iniciativa irá facilitar o aceso ao acervo, que antes só poderia ser consultado na sede da instituição. Levando-se em conta que o Arquivo passa por uma grande obra, a iniciativa é mais uma demonstração de cuidado com o acerco histórico brasileiro e com pesquisadores.
A Voz da Raça, da Frente Negra Brasileira, é um dos muitos jornais que se encontram disponíveis para consulta no site. Fundado em 1933, o jornal é tido como um dos mais importantes do gênero, sendo bastante lido também fora da comunidade negra. A Voz da Raça circulou até 1937, totalizando 70 edições. Outro exemplo é a revista Quilombo (1950), editada por Abdias do Nascimento, célebre militante e agitador cultural. O periódico tinha a função de articular e divulgar a Convenção Nacional do Negro Brasileiro. Já o jornal Chibata, por sua vez, destacava-se por seu espírito irônico e brincalhão. Orgulhava-se de ser “o jornal de maior circulação do mundo". E tinha como uma das bandeiras a luta contra o preconceito. Em sua edição de fevereiro de 1932 estampava em sua capa: "precisamos extinguir de nosso meio, os preconceitos e vícios que tanto nos atrasam".
A expressão "imprensa negra" é comum no meio acadêmico para designar títulos de jornais e revistas publicados em São Paulo após o processo abolicionista, no final do século XIX. Estes periódicos destacaram-se no combate ao preconceito e na afirmação social da população negra, funcionando como instrumentos de integração deste grupo na sociedade brasileira no início do século XX.
Além disso, estes jornais também atuavam na divulgação de eventos cotidianos da população negra, tais como festas, bailes, concursos de poesia e beleza, os quais raramente apareciam em veículos da grande imprensa. É o caso, por exemplo, dos jornais Getulino (1916-1923) e O Clarim d´Alvorada (1929-1940) e da revista Senzala (1946), entre outros.
Grande parte dos jornais foi editada na cidade de São Paulo, mas também constam alguns títulos de outras cidades como o Rio de Janeiro, Campinas e Sorocaba.

 
Veja os títulos disponíveis na internet:

Jornais: O Alfinete (1918-1921), Alvorada (1948), Auriverde (1928), O Bandeirante (1918-1919), Chibata (1932), O Clarim (1924), O Clarim d´Alvorada (1929-1940), Cruzada Cultural (1950-1966), Elite (1924), Getulino (1916-1923), Hífen (1960), O Kosmos (1924-1925), A Liberdade (1919-1920), Monarquia (1961), O Novo Horizonte (1946-1954), O Patrocínio (1928-1930), Progresso (1930), A Rua (1916), Tribuna Negra (1935), A Voz da Raça (1933-1937), O Xauter (1916). Procure pelos títulos indicados no site: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/jornais
Revistas: Quilombo (1950) e Senzala (1946). Consulte pelo site: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/a_revistas

terça-feira, 17 de maio de 2011

Bíblia de Jefferson

Por Ailton Elisiário
Grande Orador da GLEPB / Professor da UFCG / Grande Intelectual

*O texto me foi repassado por e-mail e, aproveito o ensejo para publicá-lo neste blog para todos os prezados blogeiros apreciarem de uma boa leitura.

Thomas Jefferson, um dos pais fundadores da nação americana, teve uma vida política bastante rica, ocupando cargos legislativos e executivos tais como deputado e governador da Virgínia, ministro, vice-presidente e presidente dos Estados Unidos. Próximo de sua morte, escolheu para seu epitáfio a expressão “Aqui jaz Thomas Jefferson, Autor da Declaração de Independência Americana, do Estatuto de Liberdade Religiosa da Virginia e Fundador da Universidade de Virgínia.”
Cientista, fazendeiro e arquiteto, sua imensa biblioteca foi incorporada à Biblioteca do Congresso Americano, após o incêndio que a destruiu na guerra de 1812. Jefferson nasceu em 13.04.1743 em Shadwell, Virgínia e faleceu em 04.07.1826 em Monticello, Virgínia. Fazia parte da fraternidade maçônica universal.
Deísta, Jefferson em 1813 elaborou uma bíblia fazendo recortes no Novo Testamento dos textos dos evangelhos, retirando destes as partes que considerava sobrenaturais ou que supôs hajam sido incompreendidas pelos evangelistas. O deísmo é uma escola filosófica que ensina ser Deus um ser superior, criador dos céus e da terra, mas que não intervém no seu funcionamento, permitindo que o universo realize seu curso na conformidade das leis naturais. Sua doutrina considera a razão como o caminho capaz de assegurar a existência de Deus, desconsiderando a prática de qualquer religião. A maioria dos deístas mostra respeito aos ensinamentos morais de Jesus.
A Bíblia de Jefferson ou mais formalmente A Vida e a Moral de Jesus de Nazaré, é formada de versículos dos 4 evangelhos, dispostos misturados numa ordem cronológica criando uma só narrativa. Inicia com a história do nascimento de Jesus e termina com o seu sepultamento. Começa, assim, com Lucas 2 e Lucas 3, depois Marcos 1 e Mateus 3, terminando com João 19, estando distribuída em 17 capítulos.
Os versículos anotados por Jefferson são aqueles que não falam de anjos, profecias, milagres e nem fazem referências à Trindade, à divindade de Jesus e sua ressurreição. Exclui também aqueles que falam de condenação eterna e igreja institucionalizada. De modo que, foram selecionados os versículos que tratam dos aforismos morais e das parábolas de Jesus, constituindo assim um código de moral cristã despido do sobrenatural e de qualquer dogma religioso. Como o próprio Jefferson falou ao concluí-lo: “o que resta é o mais sublime e benevolente código de ética já oferecido ao homem”.
A nação americana foi formada sob a influência dos iluministas europeus. Thomas Jefferson, juntamente com John Adams, Benjamin Franklin, Thomas Paine, George Washington e outros, disseminaram os princípios deísticos produzindo sólidos efeitos sobre as estruturas política e religiosa dos Estados Unidos. Daí, a Bíblia de Jefferson ser considerada um código de ética cristão pleno de racionalidade, sem as amarras do sobrenatural próprias das religiões, ou seja, um guia moral dentro do agigantado labirinto da vida.

domingo, 15 de maio de 2011

Ratos ODEIAM queijo


Tom e Jerry mentiram para você. Um estudo feito na Manchester Metropolitan University, na Inglaterra, diz que aquela história de que os ratos gostam de queijo é pura balela: eles gostam mesmo é de coisinhas doces.
A dieta de um rato é composta, basicamente, por grãos e frutas – ambos tipos de alimentos com grande concentração de açúcar. Segundo os pesquisadores, era fácil prever, então, que eles torceriam o nariz para algo com cheiro e sabor tão fortes como um pedaço de queijo – e foi exatamente o que testes em laboratório mostraram.
“Os ratos evoluíram quase inteiramente sem queijo ou qualquer coisa parecida com ele”, diz o líder do estudo, David Holmes.
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